quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Encontro na praia (III)

A casa vazia aguardava Patrícia. Ainda estava perturbada por aquela troca de olhares. Enfiou-se rapidamente no duche tentando que a água lhe lavasse a alma e lhe fizesse esquecer a imagem daquele homem. A verdade é que vivia sozinha há demasiado tempo e, ultimamente, sentia a falta de um abraço e de um beijo ao fim do dia. Enquanto tomava duche fechou os olhos mas em vez de esquecer parecia que aquela imagem estava mais viva a ponto de quase sentir as mãos dele a acariciá-la.

- Mas eu devo estar maluca... como é que uma rápida troca de olhares me pode ter perturbado tanto?! - Pensava Patrícia.

Por fim, enrolou-se na toalha, secou-se e, com todo o cuidado, hidratou a pele...
- Não posso correr o risco de encontrar o homem da minha vida e estar com a pele áspera e seca, não é verdade?! - E sorriu para o seu reflexo no espelho.
Depois de vestir uma roupa confortável, preparou-se para mais um jantar e um serão solitário no seu belo apartamento.


João, pelo contrário, preparou-se para um serão em família, o jantar preparado pela empregada e arrumar a cozinha enquanto a mulher ajudava o filho com os exercícios da escola. Só Fernanda é que tinha paciência para ajudar o miúdo. João perdia o controlo à mínima dificuldade de Tiago .
Enquanto Fernanda se ocupava de Tiago, João saiu para o pequeno jardim e começou a fumar um cigarro. Tinha recomeçado a fumar há pouco tempo devido ao stress que o trabalho lhe provocava. Agora saboreava aquele cigarro enquanto olhava a lua e recordava aqueles olhos azuis.

- Era melhor afastar estes pensamentos da mente. Não é assim que resolvo os meus problemas... - pensou João. Ele ainda acreditava que era possível ser feliz com Fernanda. A paixão do ínicio já não existia mas ainda a amava.

- Não acredito, João, estás a fumar outra vez... - Fernanda saira também para o jardim.
- Ainda há dois dias entrou no serviço um homem de 50 anos com um cancro de pulmão. 50 anos, João, são só mais 8 anos que tu. Quando é que te convences que isso mata...

Os argumentos de Fernanda eram sempre estes, os seus doentes do serviço de oncologia. João estava farto de saber que fumar mata. Fernanda continuou a falar de doenças mas João foi deixando de a ouvir, ia pensando se aquela mulher da praia também lhe diria para deixar de fumar...

- João, João, estás a ouvir? Estou a falar há 10 minutos e tu nem reages. Ouviste alguma coisa?

- Sim, Fernanda, já sei que fumar provoca o cancro e que mata e isso tudo.

- Mas eu já tinha começado a falar de outra coisa. Estavas a pensar em quê, afinal? Falar contigo é como falar com uma parede. Estava a falar-te...
- Desculpa, Fernanda, mas estou muito cansado. Vou dormir. - E o tom de voz não dava direito a réplica.
- Mas...

E João deixou a mulher a falar sozinha. Havia alturas em que desligava mesmo e não a ouvia. Nessas alturas já não tinha tanta certeza que ainda a amava.

1 comentário:

  1. Não vou deixar de comentar o teu espaço.
    Adoro este teu sitio onde escreves coisas lindissimas.

    Beijokinhas.

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