João conduziu, perturbado, durante algum tempo. Depois de quase bater no carro da frente, resolveu encostar. Fechou os olhos e só via o sorriso de Patrícia. Ainda sentia o sabor dos seus lábios, da sua pele, na sua boca. Pegou no telemóvel e os seus dedos procuraram o número que gravara há poucas horas.
- Ligo ou não ligo? A minha sogra parecia que me lia a mente. - pensava ele. - Bom, já que tenho a fama...
João efectuou a chamada. E tocou, tocou, tocou e nada.
Em casa, Patrícia olhava o ecran do telemóvel piscando o nome dele. E, finalmente, atendeu.
- Estou?
- Olá, Patrícia. É o João.
- Ah, olá. Então já resolveste o teu problema?
- Sim, mais ou menos. Podemos conversar?
- Claro. Diz.
- Pelo telefone, não. Preferia que nos encontrássemos.
- Tudo bem. Acabei de tomar banho. É só acabar de me arranjar e podemos encontrar-nos onde quiseres.
A imagem de Patrícia no duche era extremamente perturbadora. A última coisa que ele precisava era de ser visto com ela num sítio público. Com a sua sorte, era bem capaz de encontrar alguém conhecido. Não queria assustar Patrícia mas arriscou:
- Não me apetecia nada ir a sítios barulhentos. Estou muito cansado. Importavas-te muito se eu passasse pela tua casa? Posso levar qualquer coisa para jantarmos. Eu prometo portar-me bem. Só preciso de conversar com alguém.
Patrícia mordeu o lábio. Não sabia o que dizer. Estava cheia de vontade de estar com João mas, na verdade, mal o conhecia. Parecia-lhe perigoso que ele soubesse já onde ela morava.
- Não sei, não me parece nada boa ideia.
- Por favor, Patrícia, eu preciso mesmo de te ver e conversar contigo. Confia em mim.
- Bom, não me pareces muito bem realmente. Está bem, podes vir mas não precisas de trazer nada. Tenho sempre qualquer coisa para improvisar uma refeição. Vou explicar-te onde moro.
Quarenta e cinco minutos depois, João estacionava na rua de Patrícia. Pelo caminho, vira uma garrafeira e parara para comprar um vinho tinto. Sempre ajudava a descontrair. Ainda não sabia como ia explicar a sua saída repentida dessa tarde. Alguma coisa lhe dizia que Patrícia não gostaria de saber que ele era casado. E João não sabia se havia de terminar aquela louca história ou seguir em frente.
João tocou à campainha e Patrícia abriu. Quando ele a viu, pareceu-lhe ainda mais encantadora, vestida descontraidamente, com o cabelo ainda húmido, a pele reluzente e um discreto perfume. E decidiu que aquela história não podia mesmo acabar assim...