segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Encontro na praia (XII)

- Sabes, Patrícia, quando te falei da minha vida não fui, totalmente, sincero. - João travava uma luta interior sem saber se lhe havia de dizer que era casado ou não. Tinha que tomar uma decisão rapidamente.

Ela olhava expectante, só pensava "é agora que ele me vai dizer que é casado". João pegou-lhe na mão e disse:

- Desculpa não te ter dito antes mas eu tenho um filho. Tem 7 anos. A mãe não o pôde ir buscar ao colégio e ligou-me várias vezes para o ir buscar mas, como eu estava contigo, não ouvi o telemóvel. Ele ficou sozinho no colégio e quem acabou por o ir buscar foi a avó materna. A mãe do Tiago é médica, houve um imprevisto no hospital e ela teve que fazer mais um turno. Quando é assim, eu costumo ficar com ele.
- Ufa, não imaginava que fosse isso.
- Então o que é que pensaste?
- Deixa lá, agora já não interessa. Só não percebo porque é que estás aqui. Saiste a correr para ir ter com ele, certo?
- Sim mas a nossa relação não é muito próxima. Ele é muito mais próximo da mãe. Quando estou sozinho com ele nunca sei bem como ocupar o tempo. Ele pediu-me muito para o deixar ficar em casa da avó que eu acedi. Vou buscá-lo amanhã de manhã.
- Olha, João, não faças isso muitas vezes por mais que o teu filho te peça. Eu também sou filha de pais separados e, infelizmente, quando eu dizia que não me apetecia ir a casa dele ou sair com ele o meu pai não insistia. A pouco e pouco foi-se afastando até a nossa relação ser praticamente inexistente. Não queiras isso para o teu filho. - o olhar de Patrícia tornara-se triste lembrando a falta que o pai lhe tinha feito.

João não conseguiu resistir a acariciar o belo rosto de Patrícia. Ela sorriu-lhe e beijou os dedos que lhe tocavam.

- Não vamos falar do meu passado porque já não o posso alterar. Tu ainda podes mudar o teu presente. Não será difícil arranjar coisas para fazeres com o teu filho, algo que ele possa recordar para a vida. Por exemplo, já o ensinaste a andar de bicicleta? Eu lembro-me bem de quando o meu pai me ensinou a andar de bicicleta. Foi no ano anterior ao divórcio.
- Por acaso, nunca me lembrei disso. Estamos sempre mais em casa.
- Fazes mal. Uma criança de 7 anos precisa de ar livre, precisa de correr e saltar.
- Realmente, és bem capaz de ter razão. Se bem que hoje até podia ter agradecido ao Tiago por ter querido ficar em casa da avó. Assim tive oportunidade de vir aqui jantar contigo. - João exibiu um sorriso tão maroto que parecia um míudo.

Patrícia retribui-lhe o sorriso e levantando-se disse:
- Vou trazer a sobremesa, volto já.

Enquanto ela se atarefava entre o congelador e o micro-ondas, João, não suportando mais o desejo que o consumia, levantou-se, abraçou-a carinhosamente depositando um beijo naquela curva do pescoço que o estava a tentar desde que chegara:
- Nenhuma sobremesa será tão doce como tu, Patrícia.

Ela sentiu-se o corpo ficar mole enquanto se derretia como o gelado que tinha em cima da bancada. Voltou-se, olhou dentro dos olhos de João e viu o desejo que reflectiam. Sentiu-se um pouco assustada mas mesmo assim entregou-se ao beijo que recusara antes...

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Encontro na praia (XI)


- Olá, entra. Estou mesmo a acabar de preparar o nosso jantar. - disse Patrícia com um lindo sorriso.
- Cheira muito bem. O que é?
- Espero que gostes de pasta. É spaguetti alla carbonara.
- Adoro pasta. Espero que combine bem com este vinho. - e mostrou garrafa que comprara.
- Parece-me bem. Queres ajudar-me a abrir? - e Patrícia encaminhou-se para a cozinha à frente de João. A visão daquele corpo espectacular perturbou-o profundamente. E para ajudar, ouvia-se uma enebriante música vagamente parecida com tango...

A cozinha do apartamento de Patrícia era pequena mas acolhedora. João abriu a garrafa enquanto a jovem dispunha a pasta numa travessa. Como o espaço era exíguo, era inevitável tocarem-se. E foi que aconteceu quando Patrícia procurava uma colher para servir, tocou ao de leve na mão de João que pousava o saca-rolhas na bancada. Tanto um como outro sentiram um arrepio que lhes percorreu o corpo de alto a baixo. A atracção era tão intensa que parecia inflamar o ar que os rodeava. João aproximou a boca dos lábios entreabertos de Patrícia que pareciam pedir para ser beijados mas ela afastou-se quebrando o encanto que os rodeava.
- Vamos jantar? - perguntou Patrícia fazendo de conta que não se passara nada.

Patrícia pousou a travessa na mesa da sala e começou a servir. João estranhou a atitude da Patrícia mas acompanhou-a até à mesa servindo o vinho. Sentaram-se em silêncio e começaram a comer. A promessa do beijo continuava ali entre eles. Durante alguns minutos só se ouvia o som de ambos a mastigar e a música.

- Então...- disse Patrícia ao mesmo tempo que João também quebrava o silêncio:
- Porque que é que... - João interrompeu-se - Diz tu. O que é que estavas a dizer?
- Diz tu primeiro. Tu é que disseste que precisavas de conversar.
João ficou atrapalhado. Na verdade dissera aquilo porque queria muito vê-la. E, também, tinha que lhe dar uma justificação pela sua saída repentina daquela tarde. Não sabia bem o que lhe dizer mas suspeitava que não lhe podia dizer toda a verdade sobre a sua vida. Decidiu ser sincero, pelo menos em parte:

- Se queres que te diga, eu disse isso porque queria muito ver-te. Não esperava um convite para jantar mas ainda bem que vim até cá. O teu spaguetti está divinal. Agora posso eu fazer uma pergunta?
- Bom, não estou muito satisfeita por me teres tentado "enganar" fazendo-me acreditar que precisavas de um ombro amigo.
- Talvez até precise mesmo do teu ombro mas primeiro deixa-me fazer a tal pergunta.
- Está bem. Diz...
João pegou-lhe na mão e ela não se esforçou por retirá-la.
- Porque é que, depois do que se passou esta tarde na praia, fugiste do meu beijo há pouco? Eu sei que te apetecia tanto como a mim.


Patrícia corou com aquele seu jeito de menina tímida e desviou o olhar. João tocou-lhe, ao de leve, no queixo forçando-a a olhá-la nos olhos. Patrícia enfrentou-lhe o olhar.
- A minha atitude desta tarde foi, completamente, fora do vulgar. Não deixas de ser um desconhecido. Não sei nada sobre ti. Convidei-te cá para casa porque pensei que viesses explicar o que se passou para teres saído da praia daquela maneira. Fiquei muito confusa por ter, literalmente, rebolado na areia contigo e logo a seguir saiste a correr e deixaste-me sozinha. Nem imaginas como me senti. Afinal o que se passou contigo? Há algo que eu deva saber?

João fitou-a e tentou ordenar os pensamentos. E, finalmente, começou a falar: