sábado, 9 de junho de 2012

Encontro na praia (VIII)

O telemóvel chamou durante alguns minutos até João ouvir a voz irritada da mulher:

- Até que enfim, João. Estou farta de te ligar.

- Desculpa, estava numa reunião. Vi agora que já tinhas ligado. Há algum problema? – Ele esforçava-se para soar calmo e com naturalidade.

- Mas que reunião? A tua secretária diz que não foi ela que agendou. O meu pai diz que não sabia de nada. O que é que andas a tramar?

- Fernanda, podes parar já com o interrogatório. Sempre combinámos que tu não te metias em nada que tivesse a ver com a empresa. Ligaste-me para quê, afinal?

- Espero que não estejas a pensar enganar o meu pai de alguma maneira. Nunca te perdoaria.

O sogro de João era o principal accionista, e CEO, da empresa onde João trabalhava. Quando casaram, houve quem pensasse que ele casava com Fernanda por interesse mas João estava mesmo apaixonado pela jovem médica. Ele sempre foi dado a grandes paixões. Quando se conheceram, e se envolveram, ele nem desconfiava de quem ela era filha. Só muitos meses depois, e irremediavelmente encantado com Fernanda, é que tinha percebido que o pai de Fernanda era um dos maiores empresários do país. Naturalmente que, mais tarde, o agradável juntou-se ao útil e ele acabou por ir trabalhar para a empresa do sogro.

- És muito criativa, Fernanda. Devias dedicar-te a realizar filmes, deviam ser um sucesso. Nem todas as reuniões têm que passar pela minha secretária. E vamos acabar o assunto por aqui que eu não estou com a mínima paciência para discutir. Volto a perguntar, qual é a urgência?

- Há dias em que és mesmo desagradável. Bom, liguei-te porque o colega que me vinha substituir teve um problema familiar e eu vou ter que fazer mais um turno aqui no hospital. Liguei-te para te avisar para ires buscar o Tiago ao colégio.

João olhou para o relógio. Já passava das 17 h. O filho acabara as aulas há 1 hora atrás.

- Oh, meu Deus. Então vou já para lá. Coitado do miúdo. Já passa da hora.

- E tu achas que eu ia deixar o meu filho abandonado durante 1 hora enquanto tu andas a fazer sabe-se lá o quê?! Como não atendias, pedi à minha mãe para o ir buscar. Agora só tens que ir ter com ele à casa dos meus pais. E tenta ter paciência para o ajudares com os trabalhos, está bem?

João tinha-se sentido muito culpado quando pensou que o filho podia estar sozinho no colégio enquanto ele se rebolava, literalmente, na praia com uma mulher bonita. A relação com o filho não era a melhor mas amava-o profundamente, acima de tudo.

- Está bem. Desculpa não ter atendido e ter-me alterado. Vou já buscá-lo e vamos passar uma noite em grande, os dois. Boa noite de trabalho para ti.

- Ok. Portem-se bem. Beijinhos.

- Até amanhã, Fernanda.

João desligou e ficou a olhar para o telemóvel. Já tinha esgotado o seu repertório de mentiras. Não se estava a sentir nada bem com esta situação. Tinha que ir buscar o filho para se redimir das acções deste dia.

De repente, lembrou-se que Patrícia ainda estava ali, à sua espera, a poucos metros. E ele já nem sabia o que lhe dizer…