domingo, 8 de janeiro de 2012

Encontro na praia (VI)

- Olá. Posso fazer-lhe companhia?
Patrícia sobressaltou-se. Olhou João de alto a baixo. Pela sua cabeça passaram-lhe as imagens do sonho erótico que tivera com ele e não conseguiu evitar que a cor lhe afogueasse o rosto. Mas respondeu-lhe:
- E porque não? Pode sentar-se, se quiser…
- Desculpe o incómodo mas o seu rosto não me é estranho. – Que tirada tão óbvia pensou João.
- Mas que lugar-comum. Não quer tentar outra vez? – Ironizou Patrícia.
- Tem razão. Já há muito tempo que não converso com uma desconhecida. A verdade é que reparei em si no outro dia, aqui na praia. Achei-a muito bonita. Ainda por cima parecia deslocada daquela zona da praia, ali mais à frente, sabe? Parecia envergonhada e isso dava-lhe um ar absolutamente encantador.
Ela ouviu tudo mas fixou-se numa frase perguntando:
- Porquê?
- Porque é que a achei encantadora?
Ela sorriu mas disse:
- Não. Porque é que não mete conversa com desconhecidas há muito tempo?
- Ah, isso – E agora o que é que eu vou dizer, pensou João – Sabe, é que fui casado durante muitos anos. Separei-me há pouco tempo. Já estou desabituado de conhecer pessoas novas – E começaram as mentiras. Aonde é que eu me estou a meter? Interrogou-se João.
- Ah, compreendo. Eu também não costumo conversar com desconhecidos. Não tenho muito tempo fora do meu trabalho para conhecer outras pessoas. Os relacionamentos que tenho tido têm sido, sempre, com colegas de trabalho o que nem sempre corre bem. Sou enfermeira.
Mau, querem lá ver que ela conhece a Fernanda?! Impossível, o que há mais é médicos e enfermeiros. Seria uma incrível coincidência. João começava a inquietar-se
- Eu também não tenho muito tempo mas hoje tive que fugir. Já não aguentava mais. Tenho um trabalho muito stressante. Sou gestor de uma empresa e os tempos são difíceis. A nossa cotação em bolsa desceu muito, hoje, e andava tudo descontrolado no escritório. Inventei uma reunião fora da empresa para poder vir arejar.
E ali ficaram a conversar sobre os respectivos empregos e as vidas complicadas que ambos levavam.

A dada altura, João perguntou:
- Quer vir dar um passeio à beira-mar?
Ela hesitou:
- Depende para que lado pretende fazer o passeio.
Ele riu-se:
- Incomoda-a a zona dos naturistas? Não imagina como é libertador estar naquela zona. Manda-se as convenções sociais às urtigas. Adoro mergulhar e nada sem roupa nenhum entre a minha pele e a água. Devia experimentar um dia.
Ela olhou para ele, levemente perturbada com aquela ideia. Despir-se completamente no meio de desconhecidos era completamente impossível. Ainda se ele fosse a única pessoa na praia...

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