segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Encontro na praia (V)

Os dias passaram sem que João ou Patrícia voltassem à praia. De vez em quando havia um vislumbre daquele olhar que se intrometia nas suas cabeças.
Mais do que uma vez, Patrícia viu a tal fotografia para se tentar lembrar de quem seria aquele homem mas sem sucesso. Bem vistas as coisas, nem tinha a certeza de se tratar da mesma pessoa já que, na imagem, ele só aparecia de perfil.
Cerca de uma semana depois, como o calor se mantinha, tanto João como Patrícia resolveram ir à praia para relaxar. Ele porque se sentia a sufocar no escritório, ela porque o turno no hospital tinha sido duríssimo já que tinha perdido um doente ao qual ela tinha alguma simpatia.
Patrícia chegou primeiro. Pensara duas vezes se haveria de ir à mesma praia ou não. Nudismo não era bem o seu estilo mas não se recordava de ter visto pessoas nuas logo à entrada da praia. Aí tinha todo o aspecto de uma praia normal. Desde que não se aventurasse muito, estaria em segurança. A remota possibilidade de voltar a encontrar o homem que lhe sorrira comandou a sua vontade até lá.
Enquanto ela se instalava, João também chegou à praia já que era nessa praia que se sentia melhor. Ia para se encaminhar para o seu spot favorito quando viu o cabelo loiro de Patrícia. Ficou dividido entre a vontade de se libertar e nadar sem roupa naquele mar azul e a vontade de ficar ali perto a contemplá-la, quem sabe trocar algumas palavras com ela.
A vontade de ficar perto daquela mulher que o perturbara foi mais forte e estendeu a toalha ali por perto. De vez em quando, olhava na direcção da jovem mas ela parecia tão absorta na leitura que nem reparava no que se passava à volta. João estava desejoso de ir até lá mas, de repente, foi como se sentisse o dedo anelar da mão esquerda arder. Ali estava o símbolo do amor e fidelidade que jurara a Fernanda lembrando-o que não era um homem livre. Disse a si mesmo que conversar com uma mulher, por mais bela que fosse (e por mais atraído que se sentisse), não significava traição. Pelo sim, pelo não, resolveu tirar a aliança. Não podia tentar conhecê-la com aquele ardor a inquietá-lo.
Patrícia já o tinha visto mas tentou ignorar aquela presença. O que era certo é que não fazia ideia do que estava escrito nas páginas que ia virando. Só se conseguia lembrar do sonho da outra noite.
- É agora ou nunca - pensou João. E levantou-se... (continua)

domingo, 11 de dezembro de 2011

Encontro na praia (IV)

Indecisa entre ligar a televisão ou o portátil, Patrícia não conseguia deixar de pensar naquele homem que vira na praia. Quanto mais pensava nisso mais lhe parecia que o rosto era, vagamente, familiar. Já se tinham cruzado. - Seria médico? - pensava ela. Tendo em conta as horas que passava a trabalhar era difícil conhecer outras pessoas sem ser nos hospitais por onde já tinha passado. Decidiu-se a levar o portátil consigo para o quarto. Antes de dormir sempre podia navegar pelo seu mais recente vício, o facebook. Talvez desse uma vista de olhos às fotos dos amigos e conhecidos para ver se encontrava aquele rosto novamente. Começou pelos colegas do hospital onde trabalhava agora. A busca revelou-se cansativa e infrutífera. As palpebras coemçaram a pesar e a cabeça ia pendendo. Enquanto esperava que uma foto do jantar do último Natal carregasse, Patrícia adormeceu. O subconsciente, influenciado pela consciência, pregou-lhe uma partida. A jovem viu-se na praia. O calor era abrasador mas, estranhamente, não se via ninguém na praia. Ninguém excepto... aquele homem de olhar perturbador que sorria para ela. Aquela presença era magnética e a Patrícia, do sonho, não teve outra solução senão caminhar para ele. O desconhecido pegou-lhe na mão e fê-la sentar-se. As suas mãos tocaram-lhe carinhosamente e ela sentiu um arrepio delicioso, aumentando mais ainda com o beijo que ele lhe deu. O desconhecido pegou-lhe ao colo levando-a para a beira mar onde fizeram amor demoradamente. Patrícia acordou, sobressaltada, quando olhou em volta e viu a praia encher-se de gente para mais um dia de praia. - Parecia tão real - pensou ela enquanto se apercebia que se sentia a tremer de prazer. Antes de desligar o portátil para tentar dormir, ainda olhou para a tal foto que tentar abrir antes de adormecer. O centro da imagem era ocupada pelos rostos sorridentes dela e de outras enfermeiras do hospital com quem ela se relacionava melhor. Num canto aparecia outro grupo animado. Aí vislumbrou um belo rosto de homem...



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