terça-feira, 15 de setembro de 2009

Encontro na praia (II)


João tinha saído mais cedo do escritório. Atravessara a ponte antes da hora de ponta logo tinha demorado pouco a chegar à margem sul. Como ainda era cedo, e estava uma tarde espectacular, resolvera ir até à praia dar um mergulho para relaxar. A sua vida cada vez o entediava mais fosse no escritório ou mesmo em casa. Na empresa já não suportava mais ouvir falar na crise, nos ganhos e perdas, no PSI 20, no Dow Jones e em todas essas preocupações financeiras que tinham ensombrado o dia-a-dia no último ano.

O casamento também atravessava uma crise. Cada vez se sentia mais distante da mulher, sempre preocupada com os seus doentes, com o seu Serviço no Hospital, com os resultados escolares do filho, com a casa que tinha que estar sempre impecável. O sexo, quando acontecia, já não era apaixonado como antes. As mesmas carícias, os mesmos gestos, os corpos reagiam de maneira automática. Sim, o fantasma da rotina ensombrava-os. Longe iam os tempos em que se conheceram e a química era irresistível. Os primeiros anos de casados tinham sido espectaculares. Apesar das vidas profissionais agitadas e stressantes, quando estavam juntos entendiam-se muito bem. Fernanda era divertida, sensual, apaixonada sem se preocupar com coisas corriqueiras. Depois de uma gravidez complicada que terminou com um parto difícil, Fernanda dedicou-se completamente ao filho e foi-se afastando, esquecendo que João também fazia parte da sua vida. O filho, que João desejara tanto, foi ficando sempre mais ligado à mãe a ponto de João se sentir um intruso entre eles.
Naquela tarde, ia pensando nisso tudo e naquilo que a sua vida se tinha tornado. Aquela praia transmitia-lhe uma sensação de liberdade total. Tirar a roupa era como despir todas as máscaras que usava, a do gestor de sucesso, a de marido feliz, a de pai extremoso... Nada se comparava a nadar completamente nú, só ele e o mar.

Embrenhado nos seus pensamentos mal reparara naquela mulher de belos cabelos loiros. Primeiro que tudo, chamava a atenção porque parecia completamente deslocada naquela praia e depois parecia estar assustada. Pareceu-lhe que a mulher não se tinha apercebido que tipo de praia era aquela.

Depois de um mergulho, sentiu-se completamente revigorado e deitou-se para aproveitar aquele fim de tarde. Infelizmente o sossego foi interrompido pelo irritante som do telemóvel. Enquanto tentava resolver mais um problema, viu que a mulher se levantava. Os seus olhos cruzaram-se. Instintivamente, João escondeu a mão esquerda onde brilhava a aliança. Aquela mulher agradava-lhe e muito. . Ela corara e isso era enternecedor. Os olhos azuis que o fixavam deram-lhe uma sensação de perigo iminente, recordando-lhe a excitação da conquista e da descoberta...

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