domingo, 30 de dezembro de 2012

Encontro na praia (X)

João conduziu, perturbado, durante algum tempo. Depois de quase bater no carro da frente, resolveu encostar. Fechou os olhos e só via o sorriso de Patrícia. Ainda sentia o sabor dos seus lábios, da sua pele, na sua boca. Pegou no telemóvel e os seus dedos procuraram o número que gravara há poucas horas.

- Ligo ou não ligo? A minha sogra parecia que me lia a mente. - pensava ele. - Bom, já que tenho a fama...

João efectuou a chamada. E tocou, tocou, tocou e nada.

Em casa, Patrícia olhava o ecran do telemóvel piscando o nome dele. E, finalmente, atendeu.

- Estou?

- Olá, Patrícia. É o João.

- Ah, olá. Então já resolveste o teu problema?

- Sim, mais ou menos. Podemos conversar?

- Claro. Diz.

- Pelo telefone, não. Preferia que nos encontrássemos.

- Tudo bem. Acabei de tomar banho. É só acabar de me arranjar e podemos encontrar-nos onde quiseres.

A imagem de Patrícia no duche era extremamente perturbadora. A última coisa que ele precisava era de ser visto com ela num sítio público. Com a sua sorte, era bem capaz de encontrar alguém conhecido. Não queria assustar Patrícia mas arriscou:

- Não me apetecia nada ir a sítios barulhentos. Estou muito cansado. Importavas-te muito se eu passasse pela tua casa? Posso levar qualquer coisa para jantarmos. Eu prometo portar-me bem. Só preciso de conversar com alguém.

Patrícia mordeu o lábio. Não sabia o que dizer. Estava cheia de vontade de estar com João mas, na verdade, mal o conhecia. Parecia-lhe perigoso que ele soubesse já onde ela morava.

- Não sei, não me parece nada boa ideia.

- Por favor, Patrícia, eu preciso mesmo de te ver e conversar contigo. Confia em mim.

- Bom, não me pareces muito bem realmente. Está bem, podes vir mas não precisas de trazer nada. Tenho sempre qualquer coisa para improvisar uma refeição. Vou explicar-te onde moro.

Quarenta e cinco minutos depois, João estacionava na rua de Patrícia. Pelo caminho, vira uma garrafeira e parara para comprar um vinho tinto. Sempre ajudava a descontrair. Ainda não sabia como ia explicar a sua saída repentida dessa tarde. Alguma coisa lhe dizia que Patrícia não gostaria de saber que ele era casado. E João não sabia se havia de terminar aquela louca história ou seguir em frente.

João tocou à campainha e Patrícia abriu. Quando ele a viu, pareceu-lhe ainda mais encantadora, vestida descontraidamente, com o cabelo ainda húmido, a pele reluzente e um discreto perfume. E decidiu que aquela história não podia mesmo acabar assim...

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Encontro na praia (IX)

João ia um pouco enervado enquanto conduzia em direcção à casa dos sogros. Não sabia bem como ia ocupar o tempo com o filho sozinho. Fernanda sabia sempre como entretê-lo mas João ficava sempre perdido quando ficava com Tiago.
Assim que chegou à casa dos sogros, ouviu a gargalhada do filho e ficou feliz por Tiago estar bem-disposto. Quando o filho o viu, correu para ele:
- Olá, Papá. Posso ficar a dormir aqui em casa da avó? Assim, amanhã de manhã, posso ir logo para a piscina. E a avó faz-me panquecas para o pequeno-almoço? Posso? Posso? Por favor.
João sorriu para o filho e para a sogra. E suspirou de alívio porque Tiago sem saber estava a resolver o problema de ele nem sempre saber como entreter o filho. Mas, tendo em conta que a sogra estava com os olhos cravados nele, não concordou de imediato:
- Oh, e vais deixar o teu pobre pai sozinho? Já vinha a pensar o que podiamos fazer nesta noite só de homens!
A sogra deu uma achega:
- Deixe o menino cá ficar, João. A Fernanda chegará, de certeza, muito cansada e assim pode dormir descansada. E, de certeza, que vos fará bem umas horas sozinhos. Podem vir buscar o menino ao fim do dia ou mesmo no domingo.
- O papá pode aproveitar para trabalhar. Está sempre tão ocupado!
- Bom, se estão os dois de acordo... A D. Maria do Carmo tem a certeza que não se importa?
- Oh, João, mas desde quando é que me importo de tomar conta do meu neto?! Quer ficar para jantar?
- Obrigada mas não vale a pena. Vou seguir o conselho do meu filho de aproveitar para pôr trabalho em dia já que esta tarde não estive no escritório.
- Como queira. Tiaguito, despeça-se do papá e fique aqui a acabar o seu lanche que a avó vai acompanhar o pai ao carro.
- Está bem, avó. Obrigado, papá. - o filho deu-lhe um abraço apertado e foi embora a correr.

Maria do Carmo acompanhou João ao carro e não perdeu a oportunidade de repreender o genro:
- João, ninguém consegue perceber o que andou a fazer toda a tarde. Desapareceu, não atendeu o telefone e por isso o menino ficou mais de 1 hora sozinho no colégio. Quando lá cheguei, ele estava de lágrimas nos olhos.
- Tem toda a razão, D. Maria do Carmo, nem sabe como fiquei quando percebi que o Tiago tinha ficado no colégio. Tive uma reunião fora do escritório e tinha o telemóvel sem som.
- Estranho, nem o seu sogro nem ninguém no escritório sabia dessa reunião.
- É natural, a reunião foi marcada por mim directamente, não passou pela minha secretária.
- Olhe, João, a minha filha até pode acreditar nessa desculpa sem pés nem cabeça mas eu sei muito bem o que significam essas reuniões misteriosas a meio do dia. Eu não nasci ontem. Atreva-se a magoar a minha filha ou o meu neto e vai ter que se ver comigo.
- Mas...
- Não precisa de responder. Está avisado. Agora veja o que anda a fazer. Eu estarei atenta. Até amanhã.

A sogra virou-lhe as costas e afastou-se com altivez.
Ele entrou para o carro desorientado. Nunca teria jeito para mentir. O melhor era esquecer Patrícia e terminar aquela história ainda antes de começar.